terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Organizando I

Estratégia, eu precisava me organizar e esconder de outros o sentimento.
O sabor do sangue de Heiko ainda estava em mim, e como era diferente do sangue humano, tão forte, viscoso, intenso... mas o sabor deixava a desejar, talvez até por uma questão de sobrevivência da espécie, porque a natureza não haveria de ter sido sábia conosco também?
-Dubai! Foquei-me nesse destino, enquanto uma pequena parte de meu cérebro, a mais distante da razão, pensava em como chegar à fronteira Chile - Bolivia. Peguei o telefone e chamei pelo concierge do hotel, precisava comprar passagens. Precisava de um passaporte, ou melhor, dois, um com meu antigo nome, Olivia embarcaria para o Dubai, outra parte de mim correria o mundo atrás Dele.
Comprei um vôo para três dias à frente, paguei em dinheiro, agora precisava de documentos.
-Praça da Sé, o paraíso dos falsários!
Cheguei por volta das 22h, os trabalhadores do centro já haviam se recolhido, exceções tomavam um ultimo trago em bares de esquina próximos aos últimos ônibus. Nas ruas apenas presas, um bom exemplo da escória paulistana.
Apurei minha audição quando me afastei das escadarias do metro no meio da praça e decidi seguir em direção à igreja do Carmo, o monumento encardido refletido pela fraca luz amarela do centro seria para qualquer humano um aviso de não se aproximar, mas esse não era o meu caso. Enquanto tratava de escutar algum fragmento de conversa onde constassem palavras com nomes de documentos, passaportes, percebi leves passadas aproximando um homem de minhas costas. Ele não poderia fazer muita coisa contra mim, mas mesmo assim fiquei alerta, seu cheiro de carne impregnada com cocaína me excitou, rapidamente certifiquei que estávamos sozinhos na rua, minhas narinas se expandiram e inalei profundamente, deliciando com a possibilidade.
Ainda fiz que não notara nada quando o senti a 30 cm de meu corpo, ele então agarrou por trás, colocou sua mão esquerda sobre meu ventre e a direita empunhando uma faca sobre o pescoço.
-Shhh... não grite princesa, ele disse
Deliciei-me com sua ingenuidade e respondi:
-Nem você, meu leitãozinho!
Antes que ele pudesse responder agarrei sua mão direita com a minha e a abaixei não rápido mas violentamente até a altura de meus quadris, torci meu corpo ficando cara a cara com ele e quebrando seu braço com um ruído seco. Ele gritou, não sei se quando parti os ossos de seu braço ou esmaguei sua mão, mas gritou como um suíno no abate, assim como imaginei que faria.
Sorri para ele e com a outra mão agarrei-o pelo pescoço , levantei seu corpo uns poucos centímetros do chão, podia ler o pânico e a surpresa em seu rosto contorcido, então com sorriso de menina travessa repeti suas palavras -não grite.
Trouxe seu corpo de encontro ao meu e comecei a sorver seu sangue ao mesmo tempo em que o arrastei para debaixo de uma marquise, nos camuflei em posição de amantes sob o batente de uma porta antiga.
Enquanto degustava, procurei informações em sua cabeça, eu agora pensava apenas em conseguir os papéis.
Meu leitãozinho era um nada, um aviãozinho, viciado, vendia algumas pedras, batia carteiras... era sua primeira tentativa de pegar uma mulher à força, azar! Suas intenções a principio eram as piores, quis me roubar, estuprar, retalhar, ao perceber isso bebi seu sangue mais lentamente, lhe daria um pouco mais de agonia. Continuei a penetrar sua mente e então tive a visão de um Armando Ribeiro, chefe da área, negociava drogas, carros roubados e papeis! Deveria estar em um falso escritório de advocacia sobre um estacionamento apenas uma centena de metros dali na rua Tabatinguera.
-Perfeito! Murmurei enquanto tirava a língua de seu pescoço ensangüentado, olhei mais uma vez nos olhos semicerrados e voltei para o sangue, vi então que Armando estava bem protegido, tecnologia e capangas, mas nada difícil demais para mim. Minha ansiedade cortou a fome, antes que o corpo estivesse exangue, peguei a faca caída no chão e terminei com ela de abrir sua garganta, em seguida joguei-o sobre a marquise e me dirigi a Armando.

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