quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

III - Flashes

Por um bom tempo, algumas semanas, vaguei perdida pela cidade e não encontrei qualquer outro vampiro. A cada dia percebia pequenas mudanças acontecendo, meus sentidos estavam se aguçando. Eu podia ouvir claramente um rato andando no túnel do metro a uma centena de metros, minha pele se tornara sensível a pequenas mudanças de temperatura e umidade no ambiente, meus olhos tinham uma incrível capacidade de focar objetos a longa distância ou em movimento acelerado, eu interpretava melhor os odores que se chocavam contra minhas narinas, e o sabor do sangue... podia dizer o que cada vitima havia comido, sentia a adrenalina, endorfina... e ia além, um novo sentido experimentado em minha primeira noite como vampira e agora intenso prazer, eu podia vasculhar a cabeça de minhas vitimas enquanto bebia seu sangue, tinha a capacidade de selecionar suas memórias e aprender com elas, essas memórias também me propiciavam sobrevivência e camuflagem, podia absorver o conteúdo de um livro lido, um numero de conta e também segredos e sentimentos. Tornei-me exigente com o cardápio, não queria carregar a culpa da morte de uma pessoa pura, traficantes, assassinos, estupradores... a cidade de São Paulo me proporcionava um menu maravilhoso, com eles aprimorei, por ironia, a caça. Técnicas de assalto, contatos criminosos, aprendi com o submundo. O instinto parou de me dominar na hora da caça, eu era seletiva e meticulosa. Meu biorritmo também se alterou, agora apenas três horas de um sono leve eram suficientes para minha regeneração.


Eu sentia a plenitude de minha condição "criatura noturna". Com dinheiro roubado de minhas presas – eu gostava de pensar mais em aquisição- levava uma vida confortável em uma suíte envidraçada no décimo oitavo andar de um hotel na região da Avenida Paulista, a vista privilegiada sobre a cidade me inspirava sempre novos locais de caça e diversão. Sim eu me divertia muito, meu corpo indestrutível e belo somado à força absurda adquirida e uma carteira cheia abriam as portas em todos os ambientes da cidade. Das exclusivas casas noturnas nos jardins aos “risca-faca” na periferia, eu aproveitava cada balada como se fosse a primeira! A diversidade metropolitana surpreendia a cada programa. Tudo era novidade, não sei se pelo meu olhar vampiro ou pela ausência de memórias, me sentia como uma adolescente, descobrindo o mundo em plena mudança hormonal. E o mais importante: liberdade!

A total e absoluta liberdade. Eu tinha o poder de fazer o que quisesse, quando e como bem entendesse. Apenas procurava não chamar muita atenção nem importunar inocentes com os surtos de ego. Nesse momento a frase:

“Yo soy pájaro corsario que no conoce el alpiste”,
provavelmente ouvida em uma musica antes de minha transformação, ressoava em minha cabeça, não consegui identificar a canção, mas isso não me importava.

As coisas mudaram com a chegada das primeiras chuvas de verão. Era um fim de tarde tempestuoso, raios rasgavam a paisagem monocromática. Aconchegada em uma chaiselongue contemplava o clima. Fechei meus olhos e, rápido como frames perdidos de uma propaganda subliminar, seu rosto apareceu em meus sonhos. Eu estava perdida em uma paisagem estilo Caspar David Friedrich, chovia muito também e a cada lampejo ele estava lá, olhando pra mim, seus olhos mareados, ou apenas molhados pela chuva, me fitavam com muita dor e zelo. Estiquei os braços em direção às nuvens e tentei tocá-lo, mas então a tempestade se dissipou e tudo que eu enxergava era névoa. No desespero acordei sobressaltada, apavorada com um grito saído do fundo de minha garganta. Antes que pudesse refletir estava em pé defronte a cidade prateada.

Emoção, angustia, sentimentos tão imensos que por alguns instantes julguei serem capazes de romper minha pele. Precisei levar minhas mãos ao colo. A paixão não cabia em meu peito e eu não encontrava uma maneira de extravasar a intensidade das emoções.Minhas entranhas queimavam, senti meu rosto quente, uma forte sensação de efervescência tomou conta de minh’alma. Dor e fogo, amor e desejo.

Pela primeira vez em minha existência vampiresca me senti só, ou me enxerguei assim. Só e carente.

Desejei amar aquele homem, seria capaz de abdicar de minha imortalidade por ele.Então me estremeci com a lembrança de seu cheiro e fiquei ainda mais confusa e desesperada.
Teria sonhado com o cheiro?
Teria eu criado esse cheiro?
Não, acreditava que era uma memória, me agarrei a isso com a esperança de que esse fosse o primeiro insight sobre minha vida passada, com esperanças de que ele fosse real.

Novamente fechei meus olhos, agora ereta, com a testa espremida contra o grosso vidro da janela, as mãos fechadas em punho na altura de meus ombros, bloqueando a paisagem. Tentei me concentrar em sua imagem e perfume mas a sensação no estomago e os choques que percorriam meu corpo turvavam minha mente. Deixei-me cair ao chão, simplesmente relaxei todos os músculos entregue à emoção. Encolhi o corpo sobre o carpete macio em posição fetal, puxei o lençol que estava sobre a chaiselongue envolvendo-me como uma crisálida. Fiquei assim por uns bons minutos, agarrada a sonho ou recordação. Tentei dormir novamente, fechar meus olhos e cair em seus braços. Não consegui, eu estava muito excitada, apenas um cheiro e um rosto...

Então uma palavra martelou minha cabeça:

-Licancabur!
O que essa palavra significava? Que idioma estranho era esse? Era o nome dele?
Tinha urgência em descobrir. Agarrada a meus devaneios me levantei, era cerca de 17h, eu ficara imóvel no carpete por mais de trinta horas!
Levantei, fui ao guarda-roupa e escolhi cuidadosamente o que vestir, ainda sim fui rápida, porem me vi diante de um dos primeiros momentos de vaidade em que eu me vestia para alguém, sim agora eu me vestia pra ele. Escolhi uma lingerie de renda vinho com detalhes dourados da marca La Perla, uma saia lápis preta e uma camisa se seda preta levemente decotada, me achei recatada e sexy ao mesmo tempo, perfeito! Calcei um stiletto vinho com salto preto. Passei meus dedos entre meus cabelos ondulados, e pronto, não precisava mais, não queria maquiagem.
Peguei uma pasta preta de couro e acomodei dentro meu laptop, eu precisava sair desse quarto, prostrada no chão eu nunca o encontraria. Peguei meus óculos de sol, necessários mesmo ao entardecer e sai.
Fui a um café discreto e charmoso na alameda tietê, apenas a algumas quadras do hotel. A penumbra do lugar imediatamente aliviou o desconforto em meus olhos causados pela luz do crepúsculo, sentei no fundo em uma mesa ao lado de um grande vaso com um filodendro que subia pelas paredes. Pedi um expresso e uma água com gás apenas para dissimular, agia sempre assim em cafés, pedia líquidos e me sentava ao lado de um vaso. Retirei o laptop de minha bolsa e o abri apreensivamente na mesa, pacientemente esperei a maquina iniciar, me conectei à internet local, abri uma pagina do safári que estava programado para iniciar automaticamente com o Google e então digitei as 10 letras: - Licancabur!
Varias páginas retornaram minha pesquisa, todas se referiam à mesma coisa, um vulcão, localizado na fronteira entre o Chile e a Bolívia. A Principio apenas consegui informações geográficas, era um estratovulcão, ou seja, em forma de cone, elevação de 5916 m, latitude 22.83°S, longitude 67.88°W, tem um lago de 40x90m no topo, é o quinto lago mais alto do planeta... Havia algumas lendas incas, mas nada em especial. Continuei filtrando os sites, tinha varias janelas abertas ao mesmo tempo em meu computador. Então uma historia me chamou a atenção, um blog escrevia que por volta de 1995 um mergulhador havia encontrado uma esfera de cristal na lagoa, ao trazer o objeto para a superfície a esfera queimou suas mãos e caiu novamente na água, logo após esse fato apareceram alguns ufólogos na região e camponeses relataram terem sido importunados por uma criatura conhecida como chupacabras, que atacava os rebanhos e deixava os animais exangues com dois furos em seu pescoço.
-Mas essa historia sobre o chupacabras...- era um vampiro, só podia ser! Um vampiro esteve por ali e provavelmente se alimentou de animais por estar em um povoado tão pequeno, foi sua maneira de ser discreto, melhor um chupacabras do que um vampiro aterrorizando camponeses. Era isso, ele já passou por lá! eu precisava ir a esse lugar, essa era a única pista que eu tinha!
-Preciso ir ao Chile!
Guardei meu notebook enquanto pedia a conta para a garçonete, precisava iniciar a busca por ele. Paguei a conta deixando uma gorjeta generosa, não queria esperar pelo troco, levantei e me controlei para não correr rápido demais em direção ao hotel, precisava controlar minha ansiedade, as ruas estavam cheias de humanos.
No caminho meu peito pulsava freneticamente, não o coração batendo, um misto de ansiedade e angustia convulsivamente liberava ondas que percorriam minha caixa toráxia. A necessidade, ou melhor, a urgência de estar com ele era tudo o que sentia. Precisava encontrá-lo, sentir seu toque, o sentimento estava se materializando em forma de dor. Sentia sua falta. Estaria perdendo a razão? Como um rosto e um perfume poderiam ter tanto efeito? Como o sonho e a lembrança poderiam ser capazes de tamanha efervescência? Seria a chama ardendo parte natural do ser vampira?
Entrando no hotel fui diretamente à recepção e pedi para encerrarem minha conta. Atravessei em seguida o lobby em direção aos elevadores, ainda controlando meus passos para parecer humana, absorta em meus pensamentos. Foi então que ouvi:
-Olivia?
Parei, eu reconheci a voz imediatamente mas não me virei, ele devia estar uns dois metros atrás de mim, provavelmente no largo sofá de couro marrom. Imediatamente apaguei “Licancabur” de minha cabeça e pensei sequencialmente em arrumar as malas e partir para o Dubai. Era Heiko, esperava confundi-lo continuei em direção ao elevador.
-Nyx?
Agora precisava responder ao chamado, eu me virei lentamente e abri um falso sorriso surpreso tentando em vão parecer convincente.
-Heiko, não é? Como se eu fosse indiferente o bastante em relação ao único outro vampiro que eu havia encontrado para não me lembrar de seu nome.
-Você pretende partir?
-Bem, acho que você já viu isso dentro de mim, e apontei meu indicado direito para minha testa.
-Mas... Dubai? O que você pretende naquele lugar?
-Visitar o deserto - o deserto... essa era minha estratégia, já que estava focada em conhecer outro deserto, o do Atacama, assim a mentira se tornava mais convincente - quero provar sangue árabe, eu ri debochada.
- Você é maluca mesmo, não lhe basta toda a diversidade cultural de São Paulo?
- Não, não basta, estou muito ansiosa – o que era verdade – para conhecer outros lugares. Quero viver minha nova vida, carpe diem!
- como se sua existência estivesse chegando ao fim?
Eu senti um frio percorrer meu corpo, gelei – está querendo me dizer alguma coisa? Minha garganta se fechou em um nó.
-Apenas que São Paulo pode ser suficiente para você.
-Heiko, a verdade! Ordenei, eu sentia uma vibração estranha vindo dele.
-Você está apenas amadurecendo, quando evoluir completamente se tornara um espécime incrível.
-Não mude de assunto!
-não pretendo, apenas me permiti uma observação.
Calamos enquanto outros hóspedes passaram por nós, ele aproveitou para se levantar e chegar um pouco mais perto, em seguida perguntou:
-você vai atrás dele, não vai?
Eu tremi, era uma pergunta retórica, ele sabia a resposta. Mas tinha esperança que fosse apenas um blefe, afinal eu espremia minha mente tentando confundi-lo com pensamentos sobre o Dubai.

-Ele quem? Perguntei.
-Você sabe...
-Não, não sei. Eu deveria estar procurando por alguém? E o que mais você sabe sobre mim que eu não sei? Agora era eu quem tentava conduzir o assunto.
-Você esta mais esperta agora, aprendeu a cavar trincheiras em sua mente...
-E você deveria desistir de tentar informações que eu não tenho e deixar de ser tão evasivo. Seria educado manter um dialogo real comigo, sair da posição de inquisidor!
- Você não precisa ser tão agressiva, ele disse, ao mesmo tempo desviou o olhar para outro grupo de hospedes que se aproximava, não queremos que ouçam nossa conversa.
Pude perceber o quanto havia aumentado a minha voz.
-Sobe comigo?
-Claro! E ele gentilmente estendeu seu braço em direção ao elevador.
Enquanto subíamos em direção ao quarto foquei em banalidades como arrumar malas, providenciar passaporte, etc.. Ele permanecia estático ao meu lado, leves olheiras cercavam seus pequenos olhos azuis, vestia uma camiseta azul-marinho de mangas longas e jeans, tinha uma mochila preta em suas costas, muito casual para que qualquer humano suspeitasse.
O elevador chegou ao 18º andar rapidamente, caminhamos até o quarto, ele continuava mudo e pensativo ao meu lado. Abri a porta com o cartão magnético e fiquei feliz ao ver que estava tudo em ordem, não havia mais sinal das horas que passei deitada no chão, respirei aliviada.
Próximo à grande janela, além da chaiselongue havia também uma mesinha redonda com duas cadeiras, que junto com o guarda-roupas, a cama e um criado-mudo completavam minha mobília. Sobre a mesinha havia um bloco de papel de carta e alguns envelopes com a marca d’água do hotel. Sobre eles eu havia deixado uma caneta uniball, mas não haviam anotações, para minha sorte.
Apontei para uma cadeira e silenciosamente ele sentou, eu repeti seu gesto e sentei em sua frente, estávamos de lado para a grande cidade. Ele fixou então seus olhos nos meus.
-Você vive apenas aqui em São Paulo? Perguntei para quebrar o gelo olhando em seguida para a cidade, fugindo de sues olhos.
Ele buscou meus olhos novamente, seu olhar profundo denunciava suas tentativas de invadir minha mente, eu soltei um grande suspiro enquanto aguardava suas palavras.
-Não, não moro em lugar nenhum, me considero um peregrino.
-Peregrino? Interessante sua definição de si mesmo! E qual o motivo de sua peregrinação? Continuei tentando desviar sua atenção.
-Essa é uma pergunta que não posso te responder agora.
-Um dia?
- Um dia.
- E há alguma coisa que você possa me responder agora? Eu pisava em ovos, mas dessa vez ele parecia aberto à verdade.
-Vá atrás dele, mas não deixe que te descubram, você esta dando na cara! Ele me disse rispidamente.
-O que? Atrás de quem? Eu estava chocada! Como ele era direto...
-Sua vibração é muito forte, se eu pude sentir outros também sentirão. O amor de vocês é muito forte, imenso... Ele fez uma pausa, olhou para o chão por alguns instantes e continuou em seguida:
-Seu corpo está exalando um odor muito forte, é como se você, me desculpe à comparação, fosse uma cadela no cio. Tente disfarçar e suprimir suas angustias, suas emoções são um grande chamariz para outros como nós, e há outros. Você ainda não compreende tudo o que é capaz, tudo que somos capaz. Sei que após ter sido abandonada naquela galeria de esgoto você ainda não teve a oportunidade de compreender plenamente o que é ser como somos e age como uma órfã alheia à realidade, necessita conselhos, entender melhor sua condição antes de procurar por ele.
Eu estava em choque, meus olhos fixos no azul violáceo dos seus, estava estarrecida com suas palavras. Mais que tomar consciência de minha condição precária foi saber que ele era real, que ele também me amava o que me perturbou. Heiko demonstrou perceber que havia dito muito pra mim, se soltou um pouco procurando um modo mais sutil de continuar mas eu interrompi, precisava de respostas diretas.
-Você o conhece? Perguntei.
-Sim, fomos muito unidos. O que você sabe dele?
-Até ontem ignorava sua existência, até agora só desejava que ele fosse real.
-Ele é!
-E qual seu nome?
-Aquila é um deles.
-Aquila? Ele é italiano?
-Em tese, mas isso não é o que importa.
-Por que ele não está aqui comigo? Senti uma dor terrível ao formular essa pergunta.
-Ele se foi quando pensou que você estava morta.
-Como? Por minha causa? Eu estava confusa demais e ainda tentava manter algumas barreiras psicológicas.
-Olha, mais uma vez eu já te disse mais do que devia, Olivia.
-Mas... fui interrompida
-Espere, eu preciso terminar, foi pra isso que vim! - ele apoiou seus cotovelos sobre a mesa se aproximando de mim. - Tente controlar suas emoções! Tente racionalizar! Você já aprendeu a controlar seus instintos, agora deve fazer o mesmo com seus sentimentos. Outros também estão atrás de Aquila, vampiros poderosos que a essa altura já sabem de sua intenção de partir para o deserto atrás dele.
-Quem...
-Não me interrompa, por favor! Ele ordenou e eu obedeci como uma pupila a seu tutor.
-Você conseguiu bem bloquear seu destino real para mim, continue assim, Dubai é um bom destino. Se concentre nisso, prepare sua viagem para lá, com calma, pense nos mínimos detalhes, providencie um passaporte, compre um vôo. Mude seu destino apenas no ultimo instante, você será caçada a partir de agora. Você será observada por outros Vampiros, eles estão chegando. Mas vá, parta em busca dele, ele merece a felicidade a seu lado, mais forte ainda do que a vibração que senti em você foi o que percebi nele quando pensou que você estava morta. Não sei como você conseguiu sua pista mas vá encontrá-lo!
Meu rosto devia espelhar minha incerteza, minha desconfiança pois Heiko levou sua mão esquerda à boca e cravando os dentes no dedo indicador, abriu uma pequena fenda por onde seu sangue começou a fluir.
-Deguste! Ele me ordenou enquanto pousava seu dedo em meus lábios entreabertos.
-Concentre-se.
Imediatamente após seu sangue tocar minha língua fechei meus olhos e comecei a ter visões, apesar da pequena quantidade de fluido as imagens eram surpreendentemente claras. Pude sentir a sinceridade de sua alma e por uma fração de tempo visualizei dois homens lutando, suas costa se tocavam, eles se defendiam, eram Áquila e Heiko de espadas em punho em uma paisagem úmida e cinza, cercados de árvores desfolhadas, eles lutavam contra homens vestidos com peles e trapos. Em seguida outro flash, Aquila atrás de mim, um homem alto, cabelos cacheados cor de mel, assim como seus olhos, ombros largos e braços fortes que me envolveram em um abraço protetor, senti meu corpo estremecer com a lembrança daquele abraço. Ele era lindo e extremamente elegante, usava um jeans escuro, camiseta branca com decote “v” e um paletó de veludo cotele marrom. Seus lábios rosados vieram na direção de minha orelha... outro flash! Vi seu rosto deformado por dor e desespero, então me senti sendo puxada de um sonho, Heiko interrompera o fluxo.
-Suficiente!
Entendi, ele precisava preservar suas memórias. Foram apenas poucos segundos, mas eu estava realizada por ter a confirmação de que ele era real, não havia como dissimular a verdade gravada no sangue.
-Acredita em mim agora?
-Sim, eu vi.
-Então comece já a se preparar, você tem uma longa viagem pela frente. Há um pequeno canal de comunicação entre vocês, preste muita atenção às sutilezas de sua intuição, ele está cego pela dor mas você será capaz enxergar seus passos. E não se esqueça de bloquear sua mente para outros vampiros.
Nossa conversa estava encerrada, Heiko levantou e caminhou em direção à porta, eu continuei sentada enquanto percebi que ele se afastava, tentando esconder a agradável imagem do abraço em uma parte de mim onde não pudesse ser encontrada por outro vampiro.

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