domingo, 14 de fevereiro de 2010

Organizando IV

Ao cair no asfalto fui imediatamente na direção que Armando supunha estar escondido o tal Paulinho, em menos de um minuto estava na “Baixada do Glicério” uma região perdida da cidade com seus imensos prédios, conhecidos como “treme-treme”. Era exatamente em uma dessas construções que ele estaria escondido. Observando os edifícios eu me perguntava de que altura meu corpo seria capaz de saltar caso fosse necessário.
O prédio da mente de Armando era real e enorme, viveriam ali centenas de pessoas? Em algum dos cubículos escuros deveria estar minha próxima presa. Entrar foi muito simples, a porta da rua estava escancarada, caminhei uns poucos passos adentro e encontrei dois adolescentes fumando crack, não derramaria esse sangue, por um flash de consciência tive pena desses garotos, levei minha mão ao bolso traseiro da saia e retirei uma nota de 50 Reais que ofereci a eles ao mesmo tempo em que perguntei:
- Onde encontro o Paulinho?
- No 1513, Dona! Veio atrás de pó ou pedra? Agente pode ir buscar pra madame!
Apenas olhei para os garotos e eles me deixaram ir. O cheiro de urina, suor e química penetrava meu corpo. Nos corredores as portas eram bem fechadas, com diversas trancas, eu percebia todo o tipo de gente nos apartamentos. O fosso do elevador, há muito desativado, era uma grande lixeira. Rapidamente subi os 15 andares de escada, apenas diminui a velocidades ao perceber um homem e uma mulher que desciam de mãos dadas, eu precisava parecer humana para os que não estavam envolvidos.
Ao chegar no 15º, notei que o andar era mais limpo e iluminado que os outros. Tanto trabalho com limpeza... a idéia de manchar as paredes com sangue fez brotar uma perversidade desconhecida em mim, precisei me concentrar mais no objeto dessa caçada. Mal me movimentei pelo corredor, senti um homem, franzino e armado se aproximando, ele me pegou pelo braço.
-Pare já, onde a moça pena que vai? Ele me olhou inteira, seu corpo pequeno e o cheiro de seu suor me deram uma vontade enorme de arremessá-lo no final do corredor, mas eu ainda não sabia onde encontrar o tal Paulinho.
-Vim conversar com o Paulinho, estou só e desarmada, vim como uma porta-voz de Armando, ele quer negociar e pensa em ceder uma parte de seu território. - Não me esforcei para soar convincente, dizer que estava lá para falar por Armando me fez parecer ridiculamente estúpida ou corajosa.
-Espere um pouco - ele disse e em seguida entrou no 1505. Logo depois retornou e pude claramente ouvir o que pensava: “quando acabar a conversa eu queimo a puta!”
Eu sorri cordialmente e o acompanhei para dentro do 1505, ali fui revistada de modo lascivo, qualquer humana se sentiria extremamente ofendida com a situação, suas mãos pequenas entre minhas coxas, apalpando meus seios, eu me divertia por usar estes gestos para zerar depois o remorso por suas mortes. Os apartamentos eram interligados nesse andar, segui por mais quatro salas até finalmente me encontrar com Paulinho. A sala em que estávamos era de um mau gosto extremo, em destaque uma aparelhagem de som e a gigantesca TV. Ele estava sentado em um enorme sofá de couro negro.
_ Diga minha flor, o que aquele velho rabugento quer agora?
_Podemos ficar a sós? Assim posso mostrar melhor o presente que tenho aqui para você, e levei meu indicador a boca.
_Ela ta limpa chefe!
_Tudo bem, deixa agente! Sai daqui Mané!
Eu sorri, e assim que o capanga fechou a porta eu pulei para seu pescoço, silenciando sua alma enquanto bebia. Seus crimes eram tão terríveis que evitei enxergar.
Paulinho estava morto, fácil assim, agora a questão era sair. Fui à janela e olhei para baixo, os 15 andares pareciam altos demais inclusive para mim, mas notei que em frente, um pouco mais para a direita, havia um edifício do outro lado da rua uns 5 metros mais baixo do que onde eu estava. Se chegasse a janela certa poderia saltar, mas para isso teria que voltar por duas das outras salas, não hesitei, era isso. Ao abrir a porta para a sala ao lado dois homens além do que tinha me levado até Paulinho olharam surpresos por eu ainda estar viva. Não dei tempo para perguntas, rapidamente quebrei o pescoço do primeiro, parti o corpo do segundo ao meio e em seguida agarrei o franzino pela nuca arrancando suas armas com minha outra mão. O homem estava apavorado, sem entender o que tinha acontecido, principalmente pela violência de minha força e rapidez.
-Hoje você vive, mas apenas para contar que Armando fez um pacto com o diabo! Arremessei seu corpo contra a parede e continuei pela minha rota de fuga.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Organizando III

-Voce acha que é capaz de me machucar com esse brinquedo em sua mão? Percebeu que até agora toda a violência foi na realidade gerada por você? Porque a recusa em me receber, não vim para matá-lo! Coloque esse objeto que está em suas mãos sobre a mesa, por favor!
Ele obedeceu como um cordeirinho, o todo poderoso do pedaço estava tremendo de medo de mim!
Puxei uma cadeira e me sentei em sua frente.
-Quem é você, que te enviou aqui? O que..
Eu interrompi, - sempre perguntas... digamos apenas que quero ser sua amiga e vim propor uma troca. Preciso de algumas coisas que você pode me oferecer, em troca posso organizar uma limpeza na área.
-Me diga o que a senhora precisa!
-Agora estamos finalmente nos entendendo! puxei o risque-rabisque que estava em cima da mesa e listei rapidamente o que precisava, dando instruções específicas sobre as condições de entrega, não pude deixar de sorrir quando percebi o quanto Armando estava impressionado com a velocidade com que escrevi, rasguei o pedaço de papel e entreguei a ele.
enquanto ele lia, eu disse:
Pense nisso como uma troca, seu rival... o Paulinho da Várzea -a resposta estava na cabeça dele, eliminar esse sujeito era um desejo tão latente em sua cabeça, quase tanto quanto o medo que eu inspirava- posso acabar com ele e seus capangas mais próximos ainda essa noite, mas em troca quero tudo o que está nesse papel, sem nenhum atraso!
-Claro, tudo o que a senhora quiser! em dois dias, como combinado.
Li sua mente mais uma vez, ele se desdobraria para conseguir tudo, mesmo se eu não cumprisse minha parte, o homem estava apavorado, mas não pude deixar de intimá-lo um pouco mais.
-Não se mente para o diabo! E sei que o senhor está sendo sincero!
Suavemente levantei da cadeira, pisquei para os capangas estáticos no canto da sala, correndo atravessei uma das janelas de vidro, cai levemente agachada no asfalto, limpei os estilhaços de meu corpo e sai à caça novamente.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Organizando II

Estava alimentada, pronta para tudo, mas não iniciaria um ataque ao tal Armando, precisava dele. Estranho precisar de alguém.
Cheguei ao endereço que vi na cabeça de minha ultima refeição, à frente uma porta blindada e duas câmeras. Calmamente toquei o interfone, nada. Olhei firmemente para uma das câmeras e insisti com meu dedo, senti duas pessoas atrás da porta. Após alguns minutos de insistência atenderam.
-O que quer aqui?
-Falar com Armando.
-Não tem ninguém aqui com esse nome!
Novamente insisti na campainha.
-Gostaria muitíssimo de falar com o Armando!Podia sentir o desconforto que minha presença causava naqueles dois homens atrás da porta, e também senti que Armando estava lá, protegido por eles e mais três homens no piso superior.
Então uma outra voz, talvez o próprio, respondeu:
-Da parte de quem?
-Minha!-Ouvi uma gargalhada
-E sobre o que se trata?
-Digo quando subir e, por favor, já estou fincando impaciente...
-Seu nome?
-Sarah.
-Não conheço!
-Tenho um negócio para propor, - ouvi outra gargalhada.
-Me desculpe moça, mas não vamos abrir!
-Bom, eu tentei da forma mais simples! Estou entrando...
Cortaram a conversação.
Bom, hora de impressionar, pensei.
Afastei-me até o outro lado da rua para pegar impulso, conseguiria arrombar a porta blindada? Olhei para a câmera mais uma vez e sorri imaginando o que estariam pensando, só tentando! Descalcei meus saltos lancei meu corpo contra a barreira, pensando na teatralidade de minha ação. Bati firmemente com meus dois pés ao mesmo tempo, jogando toda a força de meu corpo no centro da chapa de aço. A brutalidade do impacto dobrou a porta e a arremessou no meio da escada, o estampido ecoou pela noite.
Voltei ao outro lado da calçada e recoloquei delicadamente o sapato em meus pés levemente feridos porém rapidamente cicatrizando. Voltei ao lugar do impacto e percebi dois corpos sem vida sob a porta retorcida. Eu exagerei, e imediatamente me lembrei de Heiko, eu realmente não sabia de que era capaz, esmagara os dois homens que antes estavam atrás da porta, que desperdício, pensei, tentando afastar de minha cabeça o incomodo que suas mortes me causavam, era diferente de matar para me alimentar, mas... adiante!
Comecei a subir os degraus arrumando minha camisa de seda nos punhos, ajustando minha gola... um terceiro segurança assustado desceu armado com um objeto que me pareceu uma metralhadora, em cadência com seu tremor, corri escada a cima e o agarrei, jogando sua metralhadora ou o que quer que aquela arma fosse, escada abaixo. Segurei bem forte seus cabelos e com ele continuei subindo os degraus, o homem inutilmente se debatia e tentava livrar meus dedos de sua cabeça.
-Acalme-se ou será escalpelado! Disse ao chegar da frente da porta que lacrava o primeiro pavimento, esta bem mais frágil de madeira. Apenas falei alto – não me irritem mais e abram essa porta agora!
Ouvi passos apressados vindo em direção à porta e pude ler os pensamentos de quem estava atrás, percebi então que tinha sido suficientemente convincente, agora seria mais fácil conseguir o que queria.
Abriram a porta, outro capanga aterrorizado, aproveitei para soltar o que estava preso por meus dedos a seus pés. A sala se parecia com o escritório de um advogadozinho de porta de cadeia, Armando, que pude facilmente identificar por suas inúmeras correntes de ouro estava sentado atrás de uma mesa de fórmica, provavelmente segurando uma arma pontada pra mim, podia ouvir o metal balançando em suas mãos trêmulas.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Organizando I

Estratégia, eu precisava me organizar e esconder de outros o sentimento.
O sabor do sangue de Heiko ainda estava em mim, e como era diferente do sangue humano, tão forte, viscoso, intenso... mas o sabor deixava a desejar, talvez até por uma questão de sobrevivência da espécie, porque a natureza não haveria de ter sido sábia conosco também?
-Dubai! Foquei-me nesse destino, enquanto uma pequena parte de meu cérebro, a mais distante da razão, pensava em como chegar à fronteira Chile - Bolivia. Peguei o telefone e chamei pelo concierge do hotel, precisava comprar passagens. Precisava de um passaporte, ou melhor, dois, um com meu antigo nome, Olivia embarcaria para o Dubai, outra parte de mim correria o mundo atrás Dele.
Comprei um vôo para três dias à frente, paguei em dinheiro, agora precisava de documentos.
-Praça da Sé, o paraíso dos falsários!
Cheguei por volta das 22h, os trabalhadores do centro já haviam se recolhido, exceções tomavam um ultimo trago em bares de esquina próximos aos últimos ônibus. Nas ruas apenas presas, um bom exemplo da escória paulistana.
Apurei minha audição quando me afastei das escadarias do metro no meio da praça e decidi seguir em direção à igreja do Carmo, o monumento encardido refletido pela fraca luz amarela do centro seria para qualquer humano um aviso de não se aproximar, mas esse não era o meu caso. Enquanto tratava de escutar algum fragmento de conversa onde constassem palavras com nomes de documentos, passaportes, percebi leves passadas aproximando um homem de minhas costas. Ele não poderia fazer muita coisa contra mim, mas mesmo assim fiquei alerta, seu cheiro de carne impregnada com cocaína me excitou, rapidamente certifiquei que estávamos sozinhos na rua, minhas narinas se expandiram e inalei profundamente, deliciando com a possibilidade.
Ainda fiz que não notara nada quando o senti a 30 cm de meu corpo, ele então agarrou por trás, colocou sua mão esquerda sobre meu ventre e a direita empunhando uma faca sobre o pescoço.
-Shhh... não grite princesa, ele disse
Deliciei-me com sua ingenuidade e respondi:
-Nem você, meu leitãozinho!
Antes que ele pudesse responder agarrei sua mão direita com a minha e a abaixei não rápido mas violentamente até a altura de meus quadris, torci meu corpo ficando cara a cara com ele e quebrando seu braço com um ruído seco. Ele gritou, não sei se quando parti os ossos de seu braço ou esmaguei sua mão, mas gritou como um suíno no abate, assim como imaginei que faria.
Sorri para ele e com a outra mão agarrei-o pelo pescoço , levantei seu corpo uns poucos centímetros do chão, podia ler o pânico e a surpresa em seu rosto contorcido, então com sorriso de menina travessa repeti suas palavras -não grite.
Trouxe seu corpo de encontro ao meu e comecei a sorver seu sangue ao mesmo tempo em que o arrastei para debaixo de uma marquise, nos camuflei em posição de amantes sob o batente de uma porta antiga.
Enquanto degustava, procurei informações em sua cabeça, eu agora pensava apenas em conseguir os papéis.
Meu leitãozinho era um nada, um aviãozinho, viciado, vendia algumas pedras, batia carteiras... era sua primeira tentativa de pegar uma mulher à força, azar! Suas intenções a principio eram as piores, quis me roubar, estuprar, retalhar, ao perceber isso bebi seu sangue mais lentamente, lhe daria um pouco mais de agonia. Continuei a penetrar sua mente e então tive a visão de um Armando Ribeiro, chefe da área, negociava drogas, carros roubados e papeis! Deveria estar em um falso escritório de advocacia sobre um estacionamento apenas uma centena de metros dali na rua Tabatinguera.
-Perfeito! Murmurei enquanto tirava a língua de seu pescoço ensangüentado, olhei mais uma vez nos olhos semicerrados e voltei para o sangue, vi então que Armando estava bem protegido, tecnologia e capangas, mas nada difícil demais para mim. Minha ansiedade cortou a fome, antes que o corpo estivesse exangue, peguei a faca caída no chão e terminei com ela de abrir sua garganta, em seguida joguei-o sobre a marquise e me dirigi a Armando.